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As cidades estão prontas para absorver o impacto das compras online?

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O aumento da adesão às compras online e o crescimento da população urbana são duas tendências que têm criado grandes desafios para as cidades. Os consumidores de lojas online aprendem, cada vez mais, que o sistema de entregas rápidas podem trazer o que eles quiserem, onde eles quiserem e sempre dentro de poucas horas. Essa realidade pode ser facilmente observada durante as épocas de festas, quando as transportadores tentam acelerar a entrega dos presentes dentro do prazo das datas especiais.

Antes dessas novas tecnologias, os gestores de diversas cidades por todo o mundo já trabalhavam em um cenário de alta demanda na competição pelo uso das vias e calçadas públicas. Se os municípios não agirem rapidamente para mudar a maneira como elas gerenciam o número crescente de veículos comerciais nas ruas, eles vão afundar em um mar de inviabilidade urbana.

O Supply Chain Transportation and Logistics (SCTL) Center da Universidade de Washington formou um novo Laboratório de Frete Urbano para tentar resolver esses problemas de congestionamento de vias públicas. Problemas que os sistemas de delivery ajudam a causar nas cidades.

Alguns dos financiadores dessa pesquisa são o Departamento de Transportes da Cidade de Seattle e cinco transportadoras norte-americanas.

O principal problema enfrentado pelas cidades é que elas estão tentando gerenciar um sofisticado sistema de entrega do século XXI com ferramentas projetadas para o século XIX – e elas estão sozinhas nessa empreitada.

Afinal, consumidores podem encomendar diversos produtos em apenas um clique, mas a maioria dos municípios só contam com uma faixa de tinta pintada no asfalto para gerenciar o estacionamento dos caminhões de todas essas transportadoras como recurso.

O Laboratório de Frete Urbano, então, reúne profissionais da construção, varejistas, empresas de logística e tecnologia e o governo das cidades para fazerem uma pesquisa aplicada e para desenvolverem soluções avançadas.

Mais compras online, entrega mais rápida

Nós vivemos em uma realidade na qual milhões de pessoas que vivem e moram em centros urbanos compram mais da metade de seus utilitários online.

Essa tendência coloca uma enorme pressão em cima dos governos locais a fim de que eles pensem como podem gerenciar a maneira como caminhões e outros veículos de entregas estacionam nas vias públicas. Essa realidade também força as construtoras a pensar nas estruturas dos prédios para receber esses produtos que chegam através de compras online. Afinal, há alguns anos, os porteiros recebiam apenas algumas pequenas encomendas, como um ou dois buquês de flores… Agora, muitos deles precisam separar e armazenar compras de centenas de moradores todas as semanas.

Alguns números provam essa mudança:

  • No primeiro trimestre de 2016, quase 8% de toda a venda no varejo nos Estados Unidos foram feitos de forma online.
  • O crescimento das vendas on-line nos Estados Unidos atingiu, em média, mais de 15% ano a ano desde 2010.
  • As vendas da Black Friday na Internet subiram 22% entre 2015 e 2016.

O que também está aumentando são as expectativas dos compradores online por serviços. Dois a cada três compradores esperam ser possível fazer um pedido às 17h para ser entregue já no dia seguinte. Três a cada cinco acreditam que os pedidos feitos ao meio dia devem ser entregues no mesmo dia. E um a cada quatro acreditam que pedidos feitos até 16h ou mais tarde também devem ser entregues ainda no mesmo dia.

Morar e comprar em centros urbanos é atrativo pela localidade. As pessoas são atraídas por essas vizinhanças nos centros da cidade porque elas preferem andar mais e dirigir menos.

A pesquisa de 2015 “National Multifamily Housing Council-Kingsley Apartment Resident Preferences Survey” mostrou que os entrevistados preferem andar até o mercado e restaurantes a ter que dirigir. Mas esse estilo de vida exige que os comerciantes entreguem mercadorias nas casas, prédios, e escritórios ou lojas perto de onde os clientes vivem.

Sistemas de delivery mais inteligentes

O Departamento de Transportes da Cidade de Seattle publicou recentemente o primeiro rascunho do Plano Diretor de Frete da cidade. O plano inclui estratégias de alto nível para melhorar o sistema urbano de entrega de mercadorias. Mas antes dos gestores públicos agirem em relação a isso, eles precisam provar quais conceitos vão, realmente, funcionar.

Para preparar o terreno para a pesquisa, uma equipe liderada pelo Dr. Ed McCormack e os estudantes Jose Machado Leon e Gabriela Giron, pesquisou 523 quadras no centro de Seattle (incluindo Belltown, o centro comercial, a Pioneer Square e o International District), South Lake Union e os centros urbanos de Uptown no outono de 2016 (no hemisfério norte).

A equipe compilou as coordenadas do Sistema de Informação Geográfica e características das infraestruturas das áreas de entrega de mercadorias nos prédios dessas áreas. O próximo passo é combinar essas informações com os dados do Sistema de Informação Geográfica já existentes para produzir um mapa completo da infraestrutura do sistema de delivery da cidade norte-americana.

Em nosso primeiro projeto de pesquisa, o Laboratório de Frete Urbano está usando ferramentas de melhoria de processos baseadas em dados para gerenciar propositalmente as operações públicas e privadas realizadas em um espaço de até 15 metros, aproximadamente.

Os 15 metros finais do sistema de delivery urbano começam quando um caminhão para em um espaço público, em uma zona de carga e descarga ou um beco. O espaço se estende até as calçadas e a área privada do prédio que receberá a entrega e pode acabar nas áreas comuns dele, como o saguão de entrada, por exemplo.

Porém, existe um problema central que esse sistema de delivery não prevê: alguns moradores dessas zonas urbanas não recebem suas encomendas devido a furtos ou porque eles não estavam em casa para aceitá-las. Sendo assim, seria seguro existir espaços comuns de entrega como extensões de pontos de ônibus ou de calçadas?

A questão mais preocupante é a falta de espaço para caminhões estacionarem e entregarem mercadorias no centro das cidades. Talvez seja possível usar a tecnologia para aproveitar os pontos de carga e descarga comerciais já existentes nesses centros urbanos. Por exemplo, caminhões de transportadores podem usar espaços que são reservados para outros usos durante as horas fora de pico.

Para analisar os problemas fundamentais no sistema de logística urbana, nossa equipe de pesquisa irá criar mapas de fluxo de cada passo no processo de entrega de mercadorias em cinco edifícios em Seattle.

Vamos coletar dados e construir um modelo para analisar cenários hipotéticos para um determinado local. Em seguida, vamos testar várias ações de alto e baixo custo nas ruas de Seattle no outono de 2017 (no hemisfério norte). Esses projetos-piloto poderão envolver a gestão de zonas de carga da cidade e becos para maximizar o uso do caminhão, ou mudar a forma como as pessoas usam elevadores de carga.

Usando a tecnologia de informações e um planejamento criativo, nós podemos fazer com que a entrega de mercadorias seja tão eficiente quando o ato de compra-las online – sem obstruir as vias públicos e sem o extravio dos produtos.

Esse texto foi escrito pelas autoras Anne Goodchild e Barbara Ivanov, ambas da Universidade de Washington. Publicado originalmente em The Conversation US.

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